Marcação a mercado: entenda como funciona esse mecanismo
Todos nós já sabemos que é possível perder dinheiro no mercado financeiro. Mas isso pode acontecer até em aplicações de renda fixa — caso seja necessário resgatar o investimento antes do prazo de vencimento. O fenômeno acontece por conta da chamada marcação a mercado.
Trata-se de um mecanismo tem como objetivo atualizar, diariamente, os preços de cotas de fundos de investimentos e títulos de renda fixa.
Graças à marcação a mercado, é possível saber quanto quem aplica ganharia caso vendesse seu título ou cota em fundos de investimento hoje.
O principal objetivo do mecanismo é proteger quem investe, tornando os preços mais transparentes e as condições de resgate justas. E isso independe do movimento da taxa básica de juros e momento do saque.
A marcação a mercado, portanto, pode favorecer quem investe em determinadas situações e desfavorecer em outras, já que busca equidade de condições. Entenda neste post como funciona esse mecanismo e como ele tem impacto nos seus investimentos.
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O que é marcação a mercado?
A marcação a mercado é a atualização diária de ativos ou cotas da carteira de renda fixa ou fundos de investimentos conforme a oferta e a demanda e o comportamento do mercado secundário.
Assim, quem tem investimento em um desses produtos, pode ver variar seu valor investido. Ele representa a valorização ou desvalorização do investimento, e é uma informação muito útil para quem deseja liquidar o título antes do vencimento.
A marcação a mercado consiste na atualização do valor de um ativo pelo seu preço de mercado. Em fundos de investimento, baseia-se no valor diário dos ativos que compõem a carteira de cada fundo, dividido pelo número de cotas.
O uso desse mecanismo nos fundos tem como objetivo evitar que haja transferência de riquezas de um cotista para outro. Ou seja, permite que um novo cotista saiba, ao aplicar, se um fundo está caro ou barato.
Além disso, possibilita que ganhos e perdas sejam distribuídos para quem de fato era cotista do fundo quando a valorização ou desvalorização das cotas aconteceu.
Exemplificando, quem entra em um fundo de investimento no meio do mês terá uma rentabilidade diferente da de quem entrou no início do mesmo mês. Isso acontece ainda que a rentabilidade do fundo seja calculada mensalmente.
A marcação a mercado é obrigatória para todos os fundos de investimento. É assim desde 2002, conforme decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que retificou instruções do Banco Central.
Cabe ao administrador de cada fundo divulgar diariamente uma marcação a mercado de forma simplificada aos cotistas.
Nova regra para títulos de renda fixa
A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) estabeleceu uma nova regra para títulos de renda fixa: a partir de 2 de janeiro de 2023, distribuidores de investimentos, como bancos e corretoras, vão precisar “marcar a mercado” o valor de alguns títulos.
Entram na nova regra CRIs, CRAs, debêntures e títulos públicos comprados via tesouraria. E as instituições têm até o final de 2022 para adaptar seus processos e informar seus clientes.
“A partir de 2 de janeiro de 2023, as instituições que seguem o Código de Distribuição terão que divulgar, pelo menos uma vez por mês, os valores de referência de títulos públicos (exceto Tesouro Direto), debêntures, CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio, respectivamente) investidos diretamente pelos clientes.” – Anbima.
Como essa marcação funciona na prática?
Conforme a categoria dos fundos de investimento, os tipos de ativos que compõem o portfólio da aplicação mudam. Além disso, o número de cotas também pode oscilar muito em cada aplicação.
Naturalmente, o cálculo da marcação a mercado também é diferente entre uma categoria e outra.
Em geral, a marcação a mercado toma como base o valor médio dos ativos de um determinado portfólio. Caso esse valor diminua em um determinado dia, a cota tem rendimento negativo no período, e vice-versa.
No caso de fundos que investem em ativos de renda variável, como ações, os preços das cotas se baseiam no valor médio diário dos papéis.
Já em fundos que investem em cotas de outros fundos (FoFs), a base para a atualização das cotas é a dos fundos nos quais investem. Ativos que têm menor liquidez devem ser precificados pelo administrador do fundo.
Quais são os fatores que interferem na marcação a mercado?
A marcação a mercado não é um processo padrão para todos os tipos de ativos financeiros. O cálculo do mecanismo sofre interferência de alguns fatores. Veja abaixo os principais!
Liquidez
A frequência da marcação a mercado é diferente para ativos com maior liquidez (como títulos públicos) e menor liquidez (como debêntures e cotas de fundos de investimento).
Para ativos com maior liquidez, esse processo acontece de forma mais rápida e se baseia nos preços dos ativos no fim do dia.
Os valores são divulgados diariamente pelo próprio programa de compra de títulos do Tesouro Nacional, o Tesouro Direto. Eles se baseiam em expectativas futuras para indicadores macroeconômicos, como a taxa DI e a inflação.
No caso de ativos com menor liquidez, a marcação a mercado é baseada na estimativa de preço justo pelo qual o ativo seria negociado.
Tipo de rentabilidade
A marcação a mercado é feita de forma diferente dependendo do tipo de rentabilidade. Títulos de renda fixa pós-fixados têm preços ajustados diariamente pela variação da taxa de referência do título, como Selic ou CDI.
Nesse caso, ainda que o aumento da rentabilidade seja menor diante de uma queda dos juros, o retorno do investimento sempre será positivo.
Isso porque as taxas básicas de juros do país sempre foram positivas, apesar de estarem na mínima histórica, no valor de 4,5% ao ano.
Já pré-fixados ou títulos atrelados à inflação oscilam conforme expectativas para a Selic durante todo o tempo do investimento. Por exemplo, o Tesouro IPCA+, o Tesouro Prefixado e as debêntures.
Caso o resgate venha a acontecer antes do prazo, a rentabilidade desses investimentos pode ser até mesmo negativa.
Se a expectativa é de que a Selic suba, a rentabilidade do título deve aumentar, enquanto o seu preço diminui. Já se a tendência é de que os juros caiam, a rentabilidade do título diminui e seu preço, por sua vez, sobe.
Para os atrelados à inflação, o preço também varia conforme a expectativa para os índices de preços.
No entanto, a marcação a mercado dos títulos de renda fixa só vale para quem deseja resgatar a aplicação de forma antecipada. Para quem for capaz de carregar o título até o vencimento, vai valer a rentabilidade acordada no momento da aplicação.
É por conta da marcação a mercado e dos seus efeitos que a escolha dos investimentos, mesmo os mais conservadores, demanda cautela.
Caso as aplicações tenham como objetivo criar uma reserva de emergência, por exemplo, não é indicado adquirir títulos prefixados e atrelados ao IPCA. Esses títulos são indicados para objetivos de médio e longo prazo.
Por isso, sua rentabilidade pode oscilar e causar prejuízos a quem aplica, caso opte por realizar o saque antes do vencimento.